domingo, 19 de maio de 2013

"Bom Dia! Meu nome é Carlitos!"

tema: a classe trabalhadora hoje e em "tempos modernos"

Se Chaplin fosse um cineasta do século XXI, a clássica cena de "Tempos Modernos" onde Carlitos saí parafusando tudo ao seu redor provavelmente seria substituída pela personagem soltando frases como "Bom Dia! Meu nome é Carlitos. Como posso estar resolvendo seu problema?" em situações cotidianas. Assim como as fábricas absorviam a maior parte da massa de trabalhadores no ínicio do século passado, hoje o setor de teleatendimento é responsável pelas maiores taxas de contratação no Brasil e também figura com altos índices no cenário mundial.

O crescimento do modelo de produção toyotista e a consequente horizontalização do capital produtivo, bem como a automoção da industria reduziram o proletariado industrial regulamentado abrindo espaço para novas modalidades de trabalho; tais como a terceirização, o cooperativismo patronal, subcontratamentos e part-time. A classe trabalhadora do século XXI torna-se desregulamentada, neste contexto pode-se perceber uma perda de direitos trabalhistas conquistados ao longo do século XX por causa da flexibilização das leis trabalhistas.

Esses novos modelos de trabalhos geram novos e velhos mecanismos de exploração do trabalhador, intensificando e precarizando as condições de trabalho. Dentro dessa crise estrutural do proletariado, ampliam-se as formas de precarização do trabalho, em alguns casos chegando à situações comparáveis com o ínicio da Revolução Industrial. O exemplo mais emblemático desses novos mecanismo de exploração é o infoproletariado – nomeação dada pelos sociólogos Ruy Braga e Ricardo Antunes –, que tem no operador de telemarketing sua representação mais completa.

Empregando cerca de 1,5 milhão de brasileiros – desses quais 39% sofrem de LER, 27% têm algum transtorno psiquico e 25% perderam parte da capacidade auditiva ou da voz – o setor de telemarketing apresenta muitas características do modelo fordista. A atividade repetitiva levada ao extremo, o controle absoluto sobre a atividade do trabalhador – colocado num cercadinho para evitar conversas e com o tempo cronometrado para almoçar ou ir ao banheiro. Mas, ao mesmo tempo, ideologicamente esse trabalhador é extremamente diferente do operário da primeira metade do século XX. Ele não se enxerga como trabalhador, mas sim como um colaborador da empresa. Essa diferença é crucial para entender o proletariado hoje.

Infere-se, portanto, que a real diferença entre a classe trabalhadora do século XXI e no ínicio do século XX não se dá por conta de melhores condições de trabalho; a tecnologia não trouxe uma melhor condição de trabalho, nem as leis trabalhistas são capazes de garanti-la. A mudança está na mentalidade do trabalhador que não se enxerga mais como classe operária, portanto não se organiza como tal. Num "Tempos Modernos" do século XXI, Chaplin deveria cortar a parte da greve, talvez substituí-la pela participação em um programa de TV com premio milionário.

Sobre a história, idiotas e a politica: como a democracia liberal acabou com a democracia

FUVEST2012

Há pouco mais de duas décadas, caía o Muro de Berlim. Terminava, enfim, um gelado embate entre dois extremos políticos: de um lado, enterrado nos escombros, o comunismo, de outro – emergindo vitorioso – o capitalismo. Era o fim da história, dizia Fukuyama. A humanidade chegou no mais alto ponto de evolução possível. A democracia liberal ocidental venceu. Era uma questão de tempo até que toda as sociedades abraçassem esse modelo de governo e a humanidade entrasse num processo de estagnação. Após um século turbulento, finalmente, o mundo poderia descansar e se entregar aos prazeres do capital. Uma onda de consumo invadiu a cortina de ferro. Em meio a hamburgueres, refrigerantes e roupas da moda a conciência política foi sendo enterrada. Afinal de contas, não havia mais nada a fazer. A democracia e a liberdade já estão garantidas e, agora, a mão invisivel da economia zela por todos.

Nessas duas décadas, entretanto, podemos constatar que a história não acabou. Também a democracia liberal ocidental não se mostrou tão forte, muito menos se universalizou como acreditava Fukuyama. A história continua. Mas houve, sim, um efeito devastador da queda do Muro de Berlim: a conciência politica das massas se enfraqueceu. A falsa ideia de uma história maniqueísta e com um lado triunfante, fez com que as pessoas esquecessem suas ideologias.  E aqui, 20 anos depois, temos uma geração dominada por analfabetos politicos. E orgulhosos disso.

Felizmente, nem toda oposição politica foi enterrada. Ainda há aqueles idealistas que resistem. Também surgiram novas posições políticas, adaptadas aos novos tempos, como os partidos Verde e Pirata. Movimento políticos tomaram as ruas; Occupy Wall Street, Slut Walk e a Primavera Àrabe são alguns exemplos. Porém, todos esses esforços ainda agregam uma fragilidade ideológica e política frutos do tempo que vivem. Além de encontrarem resistência entre a maioria de apolíticos que não acredita em movimentos sociais.

Neste cenário dominado pela apatia política e idiotice individualista, regredimos para um governo dominado por uma minoria, regrado pelo consumo, pela mídia, pela economia. O papel do cidadão se resume, quando muito, em votar. Não há participação popular. Não pode existir uma democracia real sem participação politica efetiva dos cidadãos.

Vivemos um processo de anti-democratização da democracia. Uma democracia ilusória onde nossos direitos e liberdades são limitados pela nossa própria ignorância política. Culpamos o Governo, esquecendo que nós somos o agente construtor dele. Usamos a corrupção como desculpa para legitimar nossa apolitização, mas é da nossa postura apolítica que nasce o político corrupto. Não sejamos analfabetos políticos. Não nos orgulhemos de odiar política. Não esqueçamos que da nossa apatia é que nasce a miséria, a violência e o político vigarista, corrupto e lacaio das empresas multinacionais. Não sejamos idiotas.

todo sal da historia

 FUVEST 89 

Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 

Discuta as ideias contidas nos versos acima, confrontando-as com o momento que vivemos hoje no Brasil. 

No século XV, os portugueses deram inicio as grandes navegações. E ao se lançarem ao mar,  mudaram drasticamente o rumo da História. Tal feito é cantado por Camões em sua epopéia "Os Lusíadas", onde o poeta destaca o real herói português: o povo lusitano. Já no século XX, Fernando Pessoa retoma as navegações e o heroísmo português questionando, porém, o preço pago pela ousadia.  Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal? É inegável o alto preço que os grandes feitos carregam. . A cada dez ano um grande Homem. Quem pagava a conta?, pergunta Brecht.

Mães, filhos, noivas; suas lágrimas inundam a história. Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor. A ousadia é o preço do progresso. E a ousadia tem suas penosas conseqüências.  O progresso, portanto, é construído sob o sangue, suor e lágrimas de um povo. Vale a pena?

Tudo vale a pena, se a alma não é pequena. O sofrimento é inevitável, usemo-lo para que sejamos grandes. Nossas lágrimas salgam o mar e sustentam a história, que sejamos os protagonistas. Que sejamos heróis.  Que tomemos as rédeas do nosso futuro, do progresso, da ordem. E é assim que surge, na alma humana, o desejo pela democracia.

O povo engrandecido pela consciência do seu papel histórico ocupa o que lhe é de direito: o poder político. É esse processo de engrandecimento – que faz o progresso valer a pena – que vemos em movimentos como as  "Diretas Já"; o povo consciente de sua grandeza não se submete mais ao controle autoritário e não-representativo. O povo se torna, finalmente, herói.

Portanto, é necessário que jamais esqueçamos o preço de todo progresso. Não deixemos de questionar sobre quais lágrimas nossa liberdade foi construída. E não hesitem em derramar mais lágrima para mantê-la.

segunda-feira, 4 de março de 2013

a situação da classe trabalhadora em "tempos modernos" e hoje

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,o-grande-chefe-de-lars-von-trier-discute-relacoes-de-poder,39888,0.htm

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-1/mundo-do-trabalho/bom-dia-meu-nome-e-sheila

http://www.sul21.com.br/jornal/2012/02/os-tempos-modernos-de-chaplin-trabalho-e-alienacao-na-revolucao-industrial/

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/os-dilemas-do-trabalho-no-limiar-do-seculo-21/