"Bom Dia! Meu nome é Carlitos!"
tema: a classe trabalhadora hoje e em "tempos modernos"
Se Chaplin fosse um cineasta do século XXI, a clássica cena de "Tempos
Modernos" onde Carlitos saí parafusando tudo ao seu redor provavelmente
seria substituída pela personagem soltando frases como "Bom Dia! Meu
nome é Carlitos. Como posso estar resolvendo seu problema?" em situações
cotidianas. Assim como as fábricas absorviam a maior parte da massa de
trabalhadores no ínicio do século passado, hoje o setor de
teleatendimento é responsável pelas maiores taxas de contratação no
Brasil e também figura com altos índices no cenário mundial.
O crescimento do modelo de produção toyotista e a consequente
horizontalização do capital produtivo, bem como a automoção da industria
reduziram o proletariado industrial regulamentado abrindo espaço para
novas modalidades de trabalho; tais como a terceirização, o
cooperativismo patronal, subcontratamentos e part-time. A classe
trabalhadora do século XXI torna-se desregulamentada, neste contexto
pode-se perceber uma perda de direitos trabalhistas conquistados ao
longo do século XX por causa da flexibilização das leis trabalhistas.
Esses novos modelos de trabalhos geram novos e velhos mecanismos de
exploração do trabalhador, intensificando e precarizando as condições de
trabalho. Dentro dessa crise estrutural do proletariado, ampliam-se as
formas de precarização do trabalho, em alguns casos chegando à situações
comparáveis com o ínicio da Revolução Industrial. O exemplo mais
emblemático desses novos mecanismo de exploração é o infoproletariado –
nomeação dada pelos sociólogos Ruy Braga e Ricardo Antunes –, que tem no
operador de telemarketing sua representação mais completa.
Empregando cerca de 1,5 milhão de brasileiros – desses quais 39% sofrem
de LER, 27% têm algum transtorno psiquico e 25% perderam parte da
capacidade auditiva ou da voz – o setor de telemarketing apresenta
muitas características do modelo fordista. A atividade repetitiva levada
ao extremo, o controle absoluto sobre a atividade do trabalhador –
colocado num cercadinho para evitar conversas e com o tempo cronometrado
para almoçar ou ir ao banheiro. Mas, ao mesmo tempo, ideologicamente
esse trabalhador é extremamente diferente do operário da primeira metade
do século XX. Ele não se enxerga como trabalhador, mas sim como um
colaborador da empresa. Essa diferença é crucial para entender o
proletariado hoje.
Infere-se, portanto, que a real diferença
entre a classe trabalhadora do século XXI e no ínicio do século XX não
se dá por conta de melhores condições de trabalho; a tecnologia não
trouxe uma melhor condição de trabalho, nem as leis trabalhistas são
capazes de garanti-la. A mudança está na mentalidade do trabalhador que
não se enxerga mais como classe operária, portanto não se organiza como
tal. Num "Tempos Modernos" do século XXI, Chaplin deveria cortar a parte
da greve, talvez substituí-la pela participação em um programa de TV
com premio milionário.
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